Tullo Vigevani participa de um dos cinco painéis do 2º Congresso Anual do IBE, que ocorre no próximo mês. Ouça a entrevista realizada pela Assessoria de Comunicação da Unesp e leia também sobre o conteúdo que será ministrado

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O fortalecimento do processo de integração regional entre os países que compõem o bloco do Mercosul pode ter papel importante na diminuição da pobreza e das desigualdades sociais. A avaliação é de Tullo Vigevani, professor da Unesp nas áreas de Ciências Políticas e Relações Internacionais, que participa em março do 2º Congresso Anual do IBE – Avançando na Inclusão (leia mais no site). Ao lado dos estudiosos Márcio Pochmann, da Unicamp, e Felix Dane, da Fundação Konrad Adenauer, Tullo Vigevani vai discutir o problema da exclusão econômica em um dos cinco painéis previstos para o evento.

Autor de diversos estudos sobre o Mercosul e a política externa brasileira, o professor da Unesp avalia que integração regional pode ser um estímulo ao bem-estar social se for bem conduzida e levar em conta a preocupação com o desenvolvimento de regiões mais pobres. Do contrário, pode ser um fator a mais de exclusão. “É a acusação que parte da população e mesmo das elites da Itália, Espanha, Portugal e Grécia fazem, por exemplo, à Alemanha. Ou, no caso do Mercosul, que Paraguai, Uruguai e Argentina fazem ao Brasil”, exemplifica.

Uma das dificuldades, de caráter histórico, reside no fato de que poucos pesquisadores, intelectuais e mesmo políticos deram atenção à necessidade da integração regional, focando na visão nacional, como deu-se no Brasil ao longo de boa parte dos séculos 19 e 20. O mesmo vale para os outros países da América do Sul.

Para Tullo Vigevani, o tema da unicidade do Brasil e da integração foi central, desde José Bonifácio até Celso Furtado, dentre outros. “Era preciso pensar como diferentes áreas afastadas do eixo Rio-São Paulo-Minas Gerais, que são as mais desenvolvidas do País, poderiam se integrar e aproveitar-se do desenvolvimento destes Estados. A integração regional, sul-americana, ao longo da história, não foi central. Veio à tona com força apenas no início dos anos 80”, lembra. “A experiência europeia, inclusive a atual crise, demonstra que o tema da integração está fortemente entrelaçado com o horizonte de atenuação das desigualdades e da pobreza”, acredita.

Mercosul

Dentro do contexto do Mercosul, alguns fatores podem ter contribuído para avanços ainda limitados, como observados nos últimos 20 anos. Um deles é que as políticas de liberalização econômica não foram suficientes para alavancar o crescimento das áreas mais pobres dos países componentes do bloco. As experiências do Brasil e da Europa reforçam o fato de que políticas públicas tornaram-se ainda mais necessárias. Seja para a inserção no mercado das populações até aqui dele afastadas – muito pobres no Brasil, desempregados crônicos e sub-desempregados na Europa -, seja para promover investimentos que o mercado por si só não resolve.

Contudo, Tullo Vigevani destaca que há na atualidade, em muitos países – inclusive Estados Unidos, na Europa e outros do Mercosul – uma baixa governabilidade, o que dificulta o processo de capacitação do setor público. “Alguns grandes Estados têm problema de baixa governabilidade. A vantagem é o fortalecimento da democracia, mas há por outro lado alguma dificuldade de adoção de políticas a longo prazo”, avalia. “A atenuação das desigualdades exige uma visão de mundo de longo prazo e capacidade de debilitar privilégios”, complementa.

O professor da Unesp destaca ainda que em alguns casos há o receio de importantes grupos da sociedade em apoiar a integração regional porque significaria o desvio de recursos do próprio País para fortalecer a experiência de âmbito regional. Para ele o exemplo da União Europeia, apesar da crise vivenciada atualmente, mostra que o caminho é não se restringir apenas aos elementos econômicos, mas buscar unificar a economia, política, cultura e sociedades. “Na União Europeia, esses elementos interligados resultaram em fortalecimento do bloco, algum avanço nas formulações de sociedade e de cidadania europeia e em forte integração produtiva. Basta ver que parte substantiva do comércio se dá entre os países da própria região. Isso não aconteceu ainda com o Mercosul”, acredita.

 

(Fonte: Assessoria de Comunicação do IBE)