O Instituto de Estudos Brasil Europa (IBE) participou no último dia 9 de maio, no Rio de Janeiro, da conferência Dia da Europa – "Perspectives for the Future of the European Union". Realizado pelo Centro de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com a Fundação Konrad Adenauer, o evento reuniu renomados acadêmicos do Brasil e Europa, além de autoridades diplomáticas.Os professores Ivan Domingues, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Cláudia Lage, da Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ), representaram o IBE. As duas universidades são respectivamente parceira e afiliada do Instituto. O Centro existe há dois anos e tem na Europa um de seus principais focos de atuação. Já a Fundação alemã é tradicional parceira da FGV.
Com duração de um dia, a conferência abordou as perspectivas para o futuro da União Europeia, tendo ao fundo a crise devastadora que vem atingindo os países-membro e as relações com o Brasil.  "Trata-se se de um tema de máximo interesse para o IBE", avaliou Ivan Domingues. Dos três painéis, dois foram inteiramente dedicados à crise: A União Europeia como ator global em tempos de crise e A crise e o futuro da Integração europeia. O terceiro painel foi dedicado ao tema dos Estudos Europeus – Novas agendas e estado da arte.

Claudia Lage (UFRJ) e Ivan Domingues (UFMG)

Leia depoimento do professor Ivan Domingues sobre o Dia da Europa
 
Acompanhei com grande interesse tanto as exposições quanto as discussões relacionadas com o terceiro painel, algo deslocado da crise, mas igualmente de grande interesse para nós, do IBE. Não menos do que os dois primeiros temas,  até porque – como muitos de vocês sabem – o IBE quase nasceu como IEE – um Instituto de Estudos Europeus –, à semelhança de outros IEEs existentes pelo mundo afora.
 
Achei particularmente esclarecedora a história dos referidos Institutos reconstruída por um dos painelistas, evidenciando que os mesmos nasceram nos Estados Unidos depois da segunda guerra, patrocinados em grande parte pela Ford Foundation, a exemplo da experiência de Cornell, Columbia, Michigan e Harvard (a lista é minha), com ênfase em Política, História, Línguas e Geografia. À experiência americana  se acrescenta  a europeia, no Reino Unido e em outros países, como a da Universidade de Cardiff (exemplo meu), com foco em política, literatura e sociedade. Todavia, o maior destaque recai sobre o Collège de l’Europe, sediado em Brugges, na Bélgica, que existe desde 1949 e em que se pode ver segundo o painelista como a primeira experiência genuína de estudos europeus, tendo por foco a economia, o direito, a política e a administração pública. Enfim, outra iniciativa importante foi a fundação em 1991 da Central European University, patrocinada pelo mega-investidor George Soros, com sede em Budapeste, vários programas de estudos e um deles, no tocante aos estudos europeus, consagrado às relações internacionais, cujo espectro vai dos negócios à política. Tais experiências tiveram seus bons momentos; contudo, segundo um dos painelistas, a perspectiva hoje para esse gênero de estudos como campo autônomo é de declínio e mesmo de desaparecimento – não só por causa da decadência da Europa, mas em razão da integração desses estudos na grade curricular normal dos cursos de ciências humanas e sociais.
 
Já o tema da crise europeia, de longe aquele de que mais se falou e que mais se discutiu, mostrou com clareza e preocupação o quanto a auto-estima dos europeus está em baixa, dando a impressão de ter atingido o fundo do poço, sem que alternativas tivessem sido apontadas. Os painéis foram excelentes, mas duas ausências ou lacunas me chamaram a atenção: a primeira, a falta de uma análise do quadro geo-econômico-político num mundo mais e mais globalizado e com deslocamento do eixo para a Ásia; a segunda, associada à primeira, foi a ausência da análise dos cenários econômicos e políticos com a Europa ao centro e em vista de sondar o futuro e perspectivar a crise – falou-se bastante da importância do eixo Paris-Berlim para o destino e as realizações da União Europeia, e nada da perspectiva que se abre com a vitória de Hollande nas eleições francesas: precisamente, neste novo cenário, o que será do discurso e das políticas de austeridade? Em contrapartida, ao colocar em relevo não as lacunas mas os temas efetivamente tratados, gostei muito do painel sobre a migração, sabidamente um contencioso desestabilizador seja no plano da imigração de africanos para os principais países da Europa, ou no plano da migração interna de levas de indivíduos do leste europeu à França e à Alemanha.  O desafio não poderia ser maior, ao se associar o tema da migração ao da diversidade cultural: Como a Europa deverá responder ao multiculturalismo – via integração ou assimilação? E também não é menor o risco e o perigo que o acompanham: o aumento do chauvinismo e a oposição dos europeus tanto à migração – interna e externa – quanto à própria ideia de União Europeia ou de uma Europa unificada.
Penso que o IBE deveria colocar estes ou temas parecidos em suas próximas agendas de discussão.