Quando surgiu em 2001 por iniciativa do climatógrafo e professor alemão Dieter Anhuf, a Cátedra von Martius tinha o intuito de desenvolver atividades ligadas à ecologia e promover o intercâmbio entre o Brasil e Alemanha. Com a dificuldade de encontrar candidatos nessa área, a temática foi redefinida e chegou à configuração atual, com estudos sobre política, filosofia e cultura alemã.

Coordenada atualmente pelo professor e cientista político Rainer Schmidt, que está desde 2009 no projeto e ficará até o ano que vem, a Cátedra von Martius de Estudos Alemães e Europeus funciona na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Hoje estão sendo desenvolvidas pesquisas relacionadas ao processo de constitucionalização da Europa – tema de uma conferência internacional programada pela cátedra para o ano que vem.

Na entrevista que concedeu ao site do Instituto de Estudos Brasil Europa (IBE), Rainer Schmidt explicou as mudanças pelas quais a cátedra passou nos últimos anos, seus principais objetivos e iniciativas realizadas. 

– Quando assumiu a Cátedra Martius? Houve alguma mudança de concepção desde a sua origem, em 2001?

Assumi a Cátedra em 2009 e vou ficar até 2014. Sim, houve mudanças. O primeiro títular da Cátedra era o Dieter Anhuf, um geógrafo. Nessa época a Cátedra era vinculada ao Instituto de Estudos Avançados. Mas em 2007 o DAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico) adotou uma nova política com relação à Cátedra. Desde então, ela está ligada à FFLCH e situada nas Ciências Humanas, com foco nos Estudos Alemães e Europeus. Sou o terceiro ocupante da cátedra.

– Quais os principais objetivos e tarefas da cátedra?

Os principais objetivos da Cátedra são estabelecer contatos acadêmicos entre Brasil e Alemanha, convidar colegas da Alemanha para o Brasil para dar aulas, iniciar convênios ou começar projetos de pesquisa e também ministrar cursos ou organizar eventos em outras universidades do Brasil.

– O que já foi realizado?

Já foram realizados vários ciclos de palestras, por exemplo: sobre memória, jornadas de Max Weber, conferências sobre constitucionalismo, cursos em outras universidades (por exemplo: em Teresina). Convidei vários colegas da Alemanha para participar desses eventos junto com colegas da USP ou outras universidades do Brasil. Também foram feitas várias publicações de livros e artigos. E, no ano que vem, vai haver uma conferência internacional sobre questões do constitucionalismo internacional.

– Quais pesquisas estão sendo desenvolvidas atualmente por meio da cátedra?

Estão sendo desenvolvidas pesquisas relacionadas ao processo da constitucionalização na Europa. Esse projeto europeu poderia ser interessante para outras regiões do mundo, pois nele são bem discutidos e debatidos os riscos e as chances da constitucionalização para além do estado-nação. Mas a Cátedra faz também pesquisas relacionadas à Alemanha, ao pensamento alemão, especialmente do século 20, com Max Weber ou Jürgen Habermas.

– Há um interesse grande por parte dos pesquisadores em relação aos temas que envolvem a Alemanha e a União Europeia?

Sim, há um interesse grande. Houve mudanças estruturais fundamentais na Europa nas últimas décadas. A integração dos países europeus, que era uma integração econômica, cultural e política ao mesmo tempo, alterou bastante a percepção e a autopercepção dos países, e especialmente da Alemanha como um dos principais motores da integração europeia.

– Quantas pessoas atuam diretamente com a cátedra?

Somente o titular da cátedra atua diretamente com a cátedra, mas existe uma equipe de amigos com alto interesse de cooperação com Alemanha e, além disso, somos quatro professores visitantes do DAAD na USP: em Letras, na Faculdade de Direito e também na FAU. Mas é uma das tarefas trazer professores da Alemanha para ficar no Brasil por estadias de curto ou médio prazo para complementar a força acadêmica da cátedra. Em longo prazo, a cátedra poderia atuar como um núcleo para trazer à tona o potencial ainda não completamente descoberto de uma cooperação mais intensa entre Alemanha e Brasil ou Europa e Brasil.

– Há também programas de mobilidade ligados à cátedra? Como funcionam?

A cátedra faz parte de um sistema mais amplo de cooperação e mobilidade de docentes e alunos do próprio DAAD. Dessa forma, o novo Centro de Inovação e Ciências (DWIH), em Santo Amaro, com representantes de universidades e instituições de pesquisa da Alemanha, que foi inaugurado no ano passado, ajuda bastante a encaminhar novos convênios e divulgar as numerosas oportunidades para alunos da USP e de outras universidades brasileiras estudarem ou pesquisarem na Alemanha. Alguns desses programas já funcionam há bastante tempo e todos que quiserem participar deles podem entrar em contato comigo (catedra_martius@daad.org.br) ou diretamente com os colegas do DAAD nesse novo centro em Santo Amaro pelo site: www.dwih.com.br. Além disso, nos últimos dois anos, juntamente com um centro de excelência na Alemanha, em Dresden, a cátedra forneceu o financiamento para a estadia de dois alunos em cada ano na área de ciências humanas e do direito.