Um dos principais desafios da parceria estratégica firmada em 2007 entre Brasil e UE, a fim de garantir posição mais firme no cenário internacional, é ampliar o diálogo político. Há seis anos o bloco europeu reconheceu formalmente o País como um dos principais interlecutores. Para a professora de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Miriam Saraiva, a divergência principalmente no que se refere à soberania das nações é um dos fatores para esta dificuldade.

“A União Europeia propõe parcerias com os países para ter um relacionamento mais próximo e buscar um modelo de mundo que esteja em consonância com o que ela deseja. Mas existem divergências de pontos de vista entre o Brasil e o bloco”, explica a estudiosa em entrevista ao site do Instituto de Estudos Brasil Europa (IBE). Enquanto a União Europeia projeta um modelo de mundo baseado em valores ocidentais, o Brasil defende uma visão pluralista favorável à soberania das nações, explica Miriam Saraiva. Para ela, este tipo de embate ficou evidente especialmente nas questões envolvendo a Líbia e a Síria.

Segundo a professora da UERJ, além de defender a soberania dos estados, o Brasil tem percepções diferentes em temas relacionados aos Direitos Humanos, por exemplo. Ela diz que, ao participar do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil se esforça em aprovar iniciativas que facilitem as questões relativas ao desenvolvimento, já que tem uma visão mais sócio-econômica. A União Europeia, por sua vez, tem uma preocupação maior com o que envolve as liberdades individuais. “Aí não se constrói uma posição comum”, reforça.

Miriam Saraiva acredita que, para o Brasil, um dos principais ganhos da parceria estratégica foi que ele se tornou um ator com maior prestígio internacional. Isso é importante, por exemplo, para seu desejo de ter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU – embora a professora acredite que não há espaço, neste momento, para mexer no tabuleiro. “O Brasil pleiteia isso há tempos. Mas não há um movimento para que o Conselho seja reformado. Até porque a UE não consegue resolver ainda seus problemas internos e ela perderia muito com a revisão também”, acredita.

Em termos de diplomacia, a estudiosa acredita que há também alguns avanços importantes observados após a parceria estratégica. “O Brasil sempre dialogou diretamente com os países. Agora a diplomacia brasileira começa a enxergar a União Europeia como um ator internacional”, afirma.

Na área de cooperação bilateral, ela também enxerga pontos positivos. Ela lembra que foram criados 31 Diálogos Setoriais (dinâmica de cooperação entre a UE e países emergentes; saiba mais no site http://dialogossetoriais.org) em áreas como Meio Ambiente, Direitos Humanos e fortalecimento da sociedade civil. Estes diálogos têm garantido iniciativas importantes em termos de pesquisas colaborativas e transferência de conhecimentos.

Sobre a parceria estratégica

A UE e o Brasil são parceiros estratégicos desde 2007, quando a UE reconheceu o Brasil como um dos seus principais interlocutores mundiais através da criação formal da Parceria Estratégica UE-Brasil. Desde 2007, as duas partes realizam reuniões anuais de Cúpula, focando os principais desafios globais como as alterações climáticas a crise financeira internacional, bem como a análise das situações regionais.

Mais de trinta diálogos setoriais foram criados até agora, e a implementação do segundo ano da Plano de Ação Conjunta UE-Brasil (JAP 2012-2014), está em constante avanço. A relação atual é regida pelo Acordo-Quadro de Cooperação CE-Brasil (1992), a Acordo-Quadro de Cooperação UE-Mercosul (1995) e o Acordo de Cooperação Científica e Tecnológica (2004).

 

(Fonte: Assessoria de Comunicação do IBE)