O Brasil e a Europa têm formas diferentes de lidar com o problema da exclusão digital, mas agem de forma cooperativa para garantir maior alcance da população à informação. Enquanto a preocupação do governo brasileiro é com a infraestrutura, a educação e a criação de pontos de acesso, os países europeus investem agora na elaboração de interfaces que facilitem a navegação. A comparação é do ministro-conselheiro da Sociedade de Informação e Mídia da Delegação da União Europeia no Brasil, Augusto Alburquerque, que participou do 2º Congresso Anual do IBE para debater o políticas públicas de inclusão.

Para Augusto Alburquerque, o Brasil enfrenta fortes assimetrias regionais que acabam por dificultar avanços na inclusão. Outro problema é a extensão territorial, que demanda um maior investimento para que a internet se espalhe. Dados colhidos em 2007 mostravam que apenas 21% da população brasileira tinha acesso a computadores e 14,49% dos domicílios estavam conectados à internet. A concentração maior ficava na região Sudoeste do Brasil, com 18,74% de usuários, contrastando com regiões como o Norte, com 6,15%, e o Nordeste, com 5,54%.

Neste cenário, a UE atua para que as empresas europeias compartilhem tecnologias e atendam à demanda brasileira. “Houve uma grande pesquisa na área de fibra óptica e o que as empresas europeias fizeram foi transferir este conhecimento para o Brasil. Com isso elas vão aumentar as vendas globais e o investimento será diluído”, explica. Para entender melhor esta relação com o continente e os percalços que o Brasil enfrenta para garantir maior acesso à informação, leia a entrevisa abaixo.

– Como as experiências da União Europeia em relação à inclusão digital podem ajudar o Brasil?

A Europa investe sobretudo em tecnologias genéricas de interface que permitem que sejam adaptadas a situações, ambientes e pessoas diferentes. Essa é a grande vantagem das funções que nós desenvolvemos.No caso do Brasil, não estamos pensando somente em exportar, mas contribuir para satisfazer a demanda local. Houve uma grande pesquisa na área de fibra óptica e as empresas europeias transferiram este conhecimento para o Brasil. Com isso elas vão aumentar suas vendas globais e também ajudar o País.

– O senhor acredita que o Brasil e a Europa lidam de formas diferentes com a necessidade de inclusão digital?

As funções são adaptadas às suas realidades. No Brasil há regiões extensas, com pouca população, o que obriga o governo a intervir. As assimetrias econômicas e sociais entre os Estados brasileiros são muito grandes. Para ter acesso à internet é necessária uma boa infraestrutura de telecomunicações. Muitas regiões da Amazônia, por exemplo, não têm isso. Na Europa, quando não há essa estrutura de fibra óptica, utiliza-se rádio. Mas na região amazônica, se há um período prolongado de chuva, as comunicações de rádio ficam paradas. Há coisas que são específicas de determinadas regiões do Brasil e fazem com que as funções tenham de ser diferentes e adaptadas. O governo brasileiro pretende cobrir parte da região amazônica com banda larga por satélite. Exatamente por essas dificuldades. Cobrir isso, com uma densidade populacional baixa, não se torna rentável. Portanto o governo está continuamente intervindo para assegurar as grandes ligações interurbanas e ver se consegue criar soluções locais para resolver o problema da acessibilidade.

– Qual o problema da infraestrutura no Brasil?

Os problemas que o governo brasileiro têm são muito mais complexos do que nós temos na União Europeia. Porque o Brasil parte de uma situação que o acesso à internet em certos locais é zero. Ao passo que na maior parte da Europa há uma estrutura através das telecomunicações. Muita da infraestrutura de fibra óptica na Europa foi montada ao longo da linha de ferro, porque todo o trabalho de construção civil já estava feito. No Brasil não se pode contar com isso, porque o sistema de linha férrea é pequeno e, mesmo nos locais onde ele existe, as linhas não foram preparadas com dutos onde se pode encaixar cabos de fibra óptica. Por isso o Brasil tem de fazer grandes investimentos para conseguir levar internet a todas as pessoas.

– No Brasil a prioridade agora é a infraestrutura mesmo, mais do que a questão da educação (ensinar a usar)?

Vai tudo em paralelo. Porque não vale a pena ter estrutura se não educar as pessoas para utilizá-la. Acredito que Brasil tem feito grandes investimentos nesse sentido.

 

(Fonte: Assessoria de Comunicação do IBE)